Soraya Batista
Quem melhor pode contar a história da favela senão os próprios moradores e frequentadores do território? Com esta premissa, o projeto Regiões Narrativas apresentou, ao longo de 2014, diferentes técnicas audiovisuais a cerca de 90 jovens e adultos que moram ou frequentam a Rocinha. O resultado desta incursão ao cotidiano foi apresentado na mostra que aconteceu nesta quinta-feira, dia 11 de dezembro, na Biblioteca Parque Estadual do Centro.
O evento de encerramento começou com uma visita mediada à Biblioteca Parque do Estado. Depois, os profissionais Cavi Borges (cineasta, produtor e empresário de cinema); Claudia Bolshaw (Núcleo de Arte Digital e Animação/PUC RJ); e Ratão Diniz (fotógrafo do Observatório de Favelas /Imagens do Povo) realizaram um debate sobre as linguagens audiovisuais como instrumentos de novas maneiras de perceber e narrar o mundo.
No entanto, o momento mais esperado foi a exibição dos trabalhos de alunos. Foram apresentados quatro curtas documentais, um curta de animação e dezenas de fotografias que retratam e narram a vida em uma das maiores favelas da América Latina sob a ótica de quem nela vive e frequenta.
Situações pouco conhecidas como a via sacra que acontece há 21 anos e é encenada por atores da comunidade (Via Sacra na Rocinha) e os passos de uma menina de sete anos, deficiente visual, pelas vielas e ruas da Rocinha (O mundo de Maria) foram alguns dos temas de curtas documentais que foram apresentados na mostra.
A cultura do funk na favela e sua proibição em comunidades pacificadas (Não deixa o funk morrer) e a história da educadora que dá nome a uma creche da região (Edir Caseiro, uma vida para a cidadania) também foram histórias da vida real escolhidas pelos alunos para serem narradas em seus vídeos.
Já as fotos projetadas mostraram a diversidade de olhares sobre a Rocinha em imagens que abordam a paisagem urbana, com ângulos inusitados do cotidiano; a paisagem natural que circunda a favela, os inúmeros eventos que acontecem no território e os personagens que formam e transformam o local.
“O resultado desse projeto tem sido uma alegria para nós. Não estamos querendo formar profissionais. Queremos formar pessoas capazes de ter domínios de determinadas técnicas e ferramentas de comunicação e expressão, que permitam a eles construir a sua própria expressão a respeito do mundo que eles vivem e ter um outro olhar a respeito da realidade social”, explicou a coordenadora pedagógica do Regiões Narrativas, Ilana Strozenberg.
Adilson Ferreira da Silva, 18 anos foi um dos alunos do projeto e participou da elaboração dos documentários. Ele ressalta que os projetos tinham como objetivo apresentar a Rocinha sob um novo olhar
“Muita gente fala que a Rocinha é um lugar perigoso e gente quis mostrar o contrário que ela também teu seu lado positivo, com muitas boas histórias. Foi muito gratificante, o pessoal se empenhou para fazer os trabalhos e o resultado final ficou muito bom. Valeu a pena.
Sobre o Favela Criativa
Resultado da parceria entre o poder público e a iniciativa privada, contando com recursos de R$ 14 milhões, provenientes da própria Secretaria de Estado de Cultura, da Lei Estadual de
Incentivo à Cultura do Rio de Janeiro, da Light, do Programa de Eficiência Energética da ANEEL e do Banco Interamericano de Desenvolvimento - BID, o FAVELA CRIATIVA é formado por um conjunto de projetos que oferece a jovens agentes culturais formação artística e especialização em gestão cultural e estabelece canais de diálogo entre estes jovens, possíveis parceiros e patrocinadores potenciais.
Confira a galeria de fotos (em alta resolução) aqui:
https://www.flickr.com/photos/portalupp/sets/72157649299062557/