Soraya Batista
Durante anos, Luiz Cassiano Silva, o Careca, de 45 anos, sentiu na pele os efeitos do verão carioca. Sua casa, localizada na favela do Arará, em Benfica, atingia 45° e não havia ventilador ou ar-condicionado que resolvesse o problema. Foi então que em 2012, o sonoplasta descobriu a solução para as suas dificuldades: o Telhado Verde. A técnica, largamente utilizada na Europa, consiste no plantio de árvores e plantas nas coberturas de residências e edifícios, de forma a refrescar os ambientes.
Careca descobriu o processo durante alguns trabalhos realizados como contrarregra, cerca de um ano antes de adotar a técnica. As filmagens mostravam a fundo alguns projetos ambientais, entre eles o Telhado Verde. Ele foi se aprofundando no assunto e percebeu que essa seria a alternativa mais adequada para sua casa.
“O calor na favela é muito grande, não há quase plantas e as telhas de zinco e aço pioram a situação, formando uma bolha de calor. Minha casa era muito quente, quando chegava do trabalho ficava desesperado, porque não conseguia fugir desse ar quente. Meu quarto só resfriava por volta das 4 da manhã. Por isso, quando descobri essa técnica, decidi arriscar.”
Um telhado verde é uma alternativa viável e sustentável perante os telhados e lajes tradicionais, pois proporciona um ambiente muito mais fresco do que outros telhados, mantendo o edifício protegido de temperaturas extremas, especialmente no verão.
“No início as pessoas acharam estranho um telhado cheio de plantas, mas depois viram que deu certo. Minha casa ficou mais fresca, os mosquitos diminuíram e até aumentou o número de borboletas”, explica.
No ano passado, o sonoplasta pode aperfeiçoar o projeto quando se uniu ao amigo e biólogo Bruno Rezende, o Bromélio. Doutorando em engenharia Civil na Universidade Federal do rio de Janeiro (UFRJ), Bromélio está preparando uma tese sobre telhados verdes. Ele usou o caso de Careca para o seu projeto, junto com o exemplo da sua própria casa, em Niterói, que também utiliza tem uma biocorbetura.
“A Coppe (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia) achou a minha casa muito interessante, mas pediu que o Bromélio utilizasse a mesma técnica da casa dele, para que eles pudessem fazer comparações científicas. Então eles me deram um apoio e nós pudemos colocar três camadas de Bedin (espécie de tecido) e uma lona impermeabilizante para só então colocar as plantas por cima.”
Entre as plantas utilizadas estão espécies do deserto mexicano e colombiano, plantas nativas, além de espécies medicinais, cactáceas e plantas insetívoras. Entre vegetação, também há espaço para a arte. Careca utiliza de objetos comuns, como câmeras, sapatos e objetos de arte para plantar algumas espécies de vegetação, tornando o ambiente mais alegre e bonito.
Para o sonoplasta, o projeto é um sucesso e o próximo passo será expandir o Telhado verde para outras comunidades.
“O verde acalma as pessoas e deixa o ambiente mais sereno. As favelas precisam mesmo disso. Nós temos uma grande estrutura, só falta a coragem da galera para por em prática. A gente está passando por um momento estranho no mundo e um jeito de conseguir superar isso é plantando”, afirma.