Texto: Soraya Batista / Fotos: Bruno Moreira
A pacificação das comunidades do Rio de Janeiro trouxe a tona histórias de moradores que antes passavam despercebidas. Neste dia 1 de outubro, dia nacional do idoso, vamos contar a história de Alzenira e Aldelia. Duas mulheres batalhadoras, que viveram grande parte de suas vidas na comunidade do Santa Marta, em Botafogo, lutando para ter uma vida melhor. Duas pessoas que não são famosas, mas que se destacam pela simpatia e pela grande força para aguentar as duras batalhas da vida.
Alzenira Carvalho, 85 anos, mora há 50 anos no Santa Marta, 85 anos, mora há 50 anos no Santa Marta. Bem humorada, ela conta que chegou à região com dois filhos e grávida do terceiro. Na época, morava no São Carlos, em uma casa pequena, mais o marido decidiu tentar a vida na comunidade da Zona Sul. Comprou uma casa um pouco maior, de apenas dois cômodos e aos poucos foi aumentando o imóvel.
“Minha vida foi boa, apesar dos sacrifícios. Fui lutando, lutando, meu marido morreu, mas consegui criar meus filhos e hoje eles são pessoas de bem. A vida é assim mesmo, com altos e baixos.”
Alzenira passou por momentos tensos e viu a comunidade ser assolada pelo tráfico de drogas. Apesar da dificuldade, conseguiu manter a família afastada de toda a violência e seus filhos sempre estudaram. Ela explica que com a chegada da UPP, a comunidade pode ter paz. Rindo, ela conta que “todo mundo que não era do trabalho, passou a trabalhar”. Hoje, ela vive com seu neto e seu filho e sempre recebe ajuda dos policias do GPP Social.
“Eu passo meus dias felizes. Agora daqui para frente eu espero que Jesus melhore a minha vida e que eu tenha uma boa sorte em tudo”, diz a aposentada, sorrindo.
A idosa chegou ao Rio de Janeiro ainda nova para trabalhar, com a intenção de juntar dinheiro e montar um boteco no Espírito Santo. O tempo passou, ela se apaixonou pelo atual marido e deixou o sonho de lado de voltar para a terra natal. A vontade de abrir o negócio também foi abandonada por ver o estrago que a bebida causou na vida do companheiro, que é alcoólatra.
“Há 31 anos eu vou aos Alcoólicos Anônimos para ver se eu consigo tirar o João da bebida. Ele é um homem tão bom, mas tem esse vício maldito. Quero ir ao Espírito Santo ver meus irmãos, mas como eu vou deixar o João aqui? Vão me cobrar uma fortuna para cuidar dele e eu não tenho esse dinheiro agora. Ele precisa que alguém tome conta dele, veja se ele está comendo”, disse a idosa.
O casal nunca teve filhos, por isso Aldelia cuida sozinha do marido, que saí logo cedo para beber. Quando ele volta, a idosa prepara o almoço e insiste que ele coma e tome banho. Às vezes ela caminha pela comunidade, varre a frente de sua casa e vai passando os dias com sua rotina. Não tem muitos amigos, por isso quando alguém vai visitá-la, adora conversar. Os policiais da UPP, sempre que podem, vão até sua casa, levar mantimentos e saber se ela precisa de algo.
“Nós não temos ninguém, só Jesus, então quando vem alguém da Polícia Militar eu me sinto bem, porque a gente tem alguém que olhe pela gente. Se acontecer algo, eles vem e ajuda. Isso é tão bom, eu não me sinto abandonada.”
UPP procura ajudar os idosos
Há quase dois meses sob o comando da UPP, a tenente Tatiana Lima intensificou a missão do Grupamento de Polícia de Proximidade e batizou o grupo como GPP Social. A iniciativa tem como objetivo conhecer melhor os moradores, assim como, as necessidades deles.
A ação social começou no mês passado, mas foi ressaltada durante uma reunião estratégica entre a nova comandante e a tropa. Os policiais integrantes do GPP caminham durante todo o dia da comunidade conversando com os moradores e ajudando a resolver os problemas. O grupo tem uma atenção especial com os idosos do Santa Marta.
“A maioria dos idosos daqui são muito carentes de conversa. A maior parte não tem parentes então quando a gente chega, eles querem atenção. A gente sempre tenta ajudar”, explicou o soldado Rodrigo Oliveira de Azevedo.
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