Bruna Cerdeira
A comunidade do Pavão-Pavãozinho recebeu, neste domingo, 10 de março, a primeira etapa do Circuito Mountain Bike de Favelas. Setenta e dois pilotos de todo Brasil, distribuídos em sete categorias, desceram, a toda velocidade, 1.100 metros de pista e 872 degraus.
Eduardo Galvão é baiano, mas mora em Aracaju e veio para o Rio só para a competição no Pavão-Pavãozinho. O piloto ficou encantado com a alegria e a recepção dos moradores da comunidade e garantiu que veio sem medo da violência.
"Ver a galera tão animada faz o evento ser ainda mais legal. Ninguém te conhece, mas vibra e torce por você, isso é demais!”, declarou o piloto cuja participação ocorreu por saber que a comunidade está pacificada. “Estou adorando, pretendo vir mais vezes e trazer a galera de Aracaju para cá", falou empolgado.

Com tanta velocidade em espaços tão pequenos, os pais ficam de cabelo em pé quando vêem os filhos voando sobre duas rodas. Euler Magno é pai de Pedro Souza, de 16 anos. Eles são de Belo Horizonte e o pai trouxe o filho para competir pela primeira vez no downhill urbano.
"Ele já competiu descendo montanha, mas nunca no meio dessas vielas tão estreitinhas e cheias de escadas. Tenho medo, mas apoio. Ele pratica só há cinco meses, mas quis vir mesmo assim”, contou Euler.
Pedro disse que conheceu o circuito das Escadarias de Santos, mas não competiu. “Aqui é muito mais difícil, é muito estreito, íngreme, e tem lugares que a bicicleta nem passa direito, mas estou animado", falou Pedro.

Junior Araújo, um dos organizadores do evento, disse que a proposta do projeto não é montar um 'circo' de bicicletas no meio da comunidade, descer correndo e ir embora. “Queremos deixar um legado, algo de bom. Fazemos questão dessa troca e da participação efetiva de quem mora aqui”, afirmou.
Outro benefício do circuito em favelas é a contratação de mão-de-obra da comunidade. Ou seja, a parte da montagem da pista e de toda a estrutura é feita pelos próprios moradores, além dos que ficam no apito (para avisar quando as bicicletas estão se aproximando), e daqueles que já fazem parte do quadro de funcionários.
A instalação da Unidade de Polícia Pacificadora, que aconteceu em dezembro de 2009, viabilizou a realização do evento. Segundo Junior, sem a UPP teria sido inviável realizar um evento desse porte no Pavão-Pavãozinho.

“Não dá para colocar a segurança dos atletas em risco. Muitas crianças competem e as bicicletas são caras. Os policiais dão suporte durante o evento. No entanto, precisamos garantir a prestação de serviços que acontecem antes e depois da competição, como limpeza, montagem e desmontagem de toda a estrutura", explicou ele.
Bicicletas colorindo a comunidade, manobras incríveis, crianças se divertindo. Esse é o retorno que o evento proporciona.
"Nosso pagamento é ver os moradores interagindo, participando, se divertindo com o evento, e saber que, além disso, nós estamos trazendo melhorias, gerando empregos e podendo ajudá-los de alguma maneira. Eles se sentem importantes e orgulhosos de viverem aqui e ver essa alegria é gratificante", concluiu Junior.
Até o final do ano o Circuito terá mais sete etapas: duas no Turano, duas no Complexo do Alemão, Borel/Chácara do Céu, Mangueira e Providência. Além do lazer e do incentivo ao esporte, esse tipo de evento gera renda e oportunidade de negócios para os moradores da comunidade, além de mexer com a auto-estima.