Priscila Marotti
A pacificação e a definição da paz no âmbito do conceito das UPPs foi o tema do Seminário Pax Rocinha, realizado na manhã desta terça-feira, 14 de maio, que reuniu policiais de diversas unidades de polícia pacificadora, moradores, o teólogo Leonardo Boff e o Secretário de Estado de Segurança, José Mariano Beltrame.
Realizado no auditório da Biblioteca Parque da Rocinha — um dos principais pólos culturais da comunidade inaugurado em junho de 2012 —, o evento contou também com a presença do comandante da Polícia Militar, Coronel Erir Costa Filho, e o coordenador da Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP), Coronel Paulo Henrique Azevedo de Moraes.

“Nós estamos vivendo um momento de transformação. Há alguns anos, se você errasse a subida da Ladeira Saint Roman, em Ipanema, iria parar dentro de uma área de guerra. Há alguns anos, seria inimaginável a realização de um evento desses, com todos nós aqui na Rocinha discutindo sobre paz. É claro que ainda temos problemas, mas estamos nos esforçando, gerando esperança para pessoas que hoje já podem contar com um espaço cultural como essa biblioteca, com discussões como essa”, ressaltou Beltrame.
“Não percam essa oportunidade, de aprender e participar dessa transformação. Nós temos que pensar que estamos caminhando em direção a uma realidade melhor, sem imediatismo de achar que tudo será resolvido de um dia pro outro. O policial que trabalha por isso, a empresa que cumpre seu papel e o serviço que entra (na comunidade) fazem toda a diferença. É um momento de refletir sobre erros e acertos, e de pensar que a vida de todo mundo aqui no Rio já mudou”, completou.

O teólogo Leonardo Boff agradeceu e elogiou o Secretário Beltrame e o programa das UPPs. “Eu escutei o secretário com mais atenção do que se o Papa Francisco estivesse aqui. Porque ele não disse somente palavras, disse coisas importantes, convocou a população a trabalhar pelo caminho certo. Hoje, também estou feliz porque é a primeira vez, em 40 anos palestrando pelo mundo, que falo para policiais” lembrou, elogiando o trabalho realizado nas unidades.
“O que vocês fazem é altamente arriscado, mas é também altamente humanitário. É um trabalho de transformar pessoas em cidadãos, que voltam a ter alegria de viver e conviver, que podem dormir tranquilamente, andar pelas ruas à noite. Pessoas que fazem parte da construção do bem comum”, disse Boff.
Para o Major Edson Santos, comandante da UPP Rocinha, a mudança na mentalidade e a crença no estabelecimento da paz também é uma realidade nova para ele. “Eu, como morador de comunidade que sou, já tive a plena convicção de que a realidade do Rio de Janeiro nunca iria mudar, pensando em treinar minha filha para crescer sob um regime de violência, a se esconder na hora do tiroteio, ir para debaixo da cama. E hoje eu vejo essa transformação e acredito sinceramente nela”.
Organizado por policiais da UPP Rocinha, o evento também convocou moradores da comunidade a participarem da discussão, aberta a todos os interessados, como a diarista Eliana Pereira, de 44 anos. “Acho muito importante a participação dos moradores para fortalecer a paz na comunidade. Nós sabemos que não é possível resolver tudo em dois anos e, principalmente, que temos que fazer a nossa parte também. Muitos ficam com medo de o projeto acabar depois da Copa ou das Olimpíadas. Quanto mais divulgarmos e mobilizarmos as pessoas com discussões como essa, mais fortes se tornam a pacificação e as melhorias”, afirmou.