Paula Costa
Moradores do Batan, em Realengo, na Zona Oeste, tiveram na tarde deste sábado um dia para lá de especial. Eles assistiram juntos à vitória do Brasil sobre o Japão (3 a 0) na estreia da nossa Seleção na Copa das Confederações.
A festa foi organizada pela Coca-Cola, empresa parceira das UPPs, que instalou um grande telão de LED na quadra esportiva do CIEP Thomas Jefferson. A celebração se deu porque o Batan conquistou o sexto lugar no concurso “Vamos juntos colorir as comunidades cariocas”, promovido pela empresa em 21 comunidades.
No Batan, a Rua São Dagoberto foi a escolhida para ser enfeitada com as cores do Brasil. O grande barato é que a ornamentação ficou a cargo dos próprios moradores da comunidade. E não faltou criatividade na hora de pintar muros de casas da região e tornar todo o espaço mais alegre.
Agatha Barbosa Rodrigues e Douglas Conceição, ambos de 16 anos, foram os escolhidos para soltar a imaginação e decorar a rua.
Nos muros do Batan, pintaram o mascote da Copa, Fuleco, além de bandeiras do Brasil e pontos turísticos do Rio, como o Pão de Açúcar, o Cristo Redentor e, é claro, o Maracanã. Com latas de spray, tintas e pincel nas mãos, eles não desperdiçaram a chance de mostrar seus talentos para o resto da comunidade.
“Foi uma experiência muito boa, adorei. É uma emoção deixar meu trabalho registrado na comunidade e, principalmente, na rua onde moro”, contou Douglas, que no Batan também é conhecido como Bambu.
“Faço desenhos no papel. Nunca tinha pintado uma parede. Fiquei dia e noite pensando no que ia desenhar. Foi um desafio e gostei muito do resultado. Agora, quero conseguir fazer um curso de desenho para aprimorar meu talento”, disse o rapaz, que desenha desde os seis anos de idade e até já havia exposto seus trabalhos na escola.
Filha de desenhista, Agatha descobriu nesse concurso que tinha herdado o talento do pai.
“Fiquei um pouco insegura e pedi a opinião dele, que me falou para eu ir além da Copa das Confederações. Foi aí que pensei em me inspirar também nos cartões-postais do Rio”, explicou.
“Gosto muito de arte. Hoje, canto em igrejas, aniversários e casamentos e componho músicas gospel. Mas nunca tinha pintado. Fico olhando para os desenhos e nem acredito que fui eu que fiz”, admitiu a menina. “Mas adoro desafios, por isso topei”, completou.
Silvane Barbosa, mãe de Agatha, lembrou que determinação é a palavra que define a filha.
“Quando ela coloca uma coisa na cabeça, ninguém tira. Ela chegou contando que ia pintar a rua e eu dei a maior força. Fiquei super orgulhosa. Quando ela fala que vai fazer algo, ela faz”, afirmou.
Luciano Ângelo Araújo, do Centro Social e Cultural Tatiane Lima, entidade que também participou do projeto, disse que alguns muros da comunidade já precisavam de reforma antes da pintura. “Foi aí que vizinhos se uniram para comprar materiais de construção para que tudo desse certo”, contou.
“Escolhemos então dois moradores sem experiência, enquanto as outras comunidades tinham profissionais desenhando. Por isso, foi uma surpresa muito boa conquistar o sexto lugar”, concluiu.
Além do Batan, também foram premiadas as comunidades do Chapéu Mangueira, Morro dos Prazeres, Morro de São João e Tabajaras. O grande vencedor foi o Morro dos Macacos, em Vila Isabel.
Vitória no telão e na comunidade
E na quadra do CIEP Thomas Jefferson a animação era geral. Fanático por futebol, Ronaldo Carreira, morador do Batan há 41 anos, não perdeu a oportunidade de levar a família para assistir ao jogo do Brasil no telão de LED. Ele estava acompanhado do neto e de seu filho mais novo, Ronaldo Taffarel, cujo nome foi uma homenagem ao ex-goleiro da Seleção Brasileira.
“A mãe dele estava grávida na Copa de 98. Na semifinal, contra a Holanda, houve empate no tempo normal e o Taffarel agarrou muito nos pênaltis. Foi incrível!", relembrou.
"Naquele dia decidi que daria o nome do goleiro ao meu filho. Hoje, ele também é apaixonado por futebol", concluiu.
Ronaldo ressaltou que se não fosse a pacificação, não seria possível assistir ao jogo na rua.
“Se aqui não estivesse pacificado, esse evento jamais aconteceria. Hoje, aproveito tudo que oferecem na comunidade. Me sinto tão seguro que até trouxe meu netinho. Antes, meu filho não podia nem ir à padaria. Não tínhamos segurança para nada, vivíamos com medo. Eu roía as unhas de nervosismo quando tinha tiroteio”, contou, mostrando as mãos para provar que hoje vive com mais tranquilidade.
Quem também compareceu à festa foi a moradora Andreia Coelho. Ela chamou as três irmãs para assistir ao jogo, além das quatro filhas e quatro sobrinhos.
“Viemos com a turma toda, chegamos às 14h. A criançada adora. Antes do jogo teve brincadeiras, eles ganharam ioiô, balão, dançaram e estão adorando”, disse.
“Eu sempre aproveito os eventos que acontecem na comunidade. Antes da pacificação a gente não podia nem sair de casa. Mas agora saio com a minha caçula de seis meses sem medo", disse. "Ganhamos outra vida com a segurança”, desabafou.
No intervalo de jogo, a animação continuou com um concurso de dança. E para comemorar a vitória do Brasil, o público se divertiu com o show do MC Nego do Borel.
“Vou animar a galera tocando minhas músicas e grandes sucessos de funk. Tenho certeza que o pessoal vai gostar”, adiantou o cantor, pouco antes de iniciar o show.